Ecos da Liberdade

 

Em viagem de reportagem para Natal (RN), fomos também até João Pessoa (PB), e perguntei ao senhor Dalmo: “O senhor conhece o Natal que transformou o mundo?”. Dalmo respondeu: “Eu sou católico praticante, assisto a todas as missas, mas nunca tive um episódio com Deus”. Desde aquele dia procurei escrever sobre “Um episódio com Deus”, e somente agora foi possível, em uma viagem de entrevistas para Salvador (BA).

Embarcamos em Foz do Iguaçu com troca de aeronave em Curitiba. Ainda em Foz do Iguaçu, ao entrar na aeronave, falei para Lísia, a chefe da tripulação: “Eu não posso chegar a Curitiba antes de minha esposa. Precisamos chegar juntos no destino de nossa viagem”. Ela ficou perplexa e queria saber o que estava acontecendo, e eu respondi: “Devo viajar na poltrona 11, E, e minha esposa viaja na poltrona 26, F. Assim eu vou chegar bem antes e eu prometi ficar com ela até...”. A jovem entendeu a brincadeira e respondeu: “Deixe para mim”.

Sentado em meu lugar, logo chegou uma jovem, sentou-se ao meu lado e desejava viajar com seu amado, fazendo a mesma reclamação. Poucos instantes mais tarde, a chefe de voo da TAM voltou dos fundos da aeronave e disse: “Senhor Mário, aqui está sua esposa, pode sentar-se com ela nas poltronas especiais, junto à porta de emergência, e os jovens podem viajar juntos, aqui em seu lugar”. Ufa, valeu a brincadeira, pois estávamos juntos em poltronas mais confortáveis, e surgiu um “episódio” de felicidade entre os passageiros e fizemos amizade com o casal jovem da Alemanha. 

Episódio na porta do avião em Curitiba

O casal de jovens alemães estava muito enamorado. Entre beijos e cabecinha no ombro, a jovem celebrava o voo de Foz do Iguaçu a Curitiba. No Aeroporto Afonso Pena, trocamos de aeronave, embarcando para Salvador, e eles tomaram o mesmo voo, para Fortaleza, mas já não se separavam mais de nós, pois se sentiam amparados por pessoas que falavam seu idioma.

Entrando pelo túnel do aeroporto, falei do tema de nossa pesquisa e perguntei: “Aniella, você já viveu um 'episódio' com o Salvador?”. Ela respondeu: “Eu creio em um 'ser' superior, mas não sei se devo chamá-lo de Deus...”.

Colocando a mão sobre o ombro do jovem, perguntei: “E você Richard, já teve um 'episódio' com Deus?”. Ele respondeu com muita seriedade: “Eu sou católico desde a minha infância, mas não vou à igreja. Oro em momentos de dificuldades e isso acontece a cada três meses uma só vez”. - “Que contabilidade exata de sua religiosidade”, eu concluí.

Ao nos aproximar da porta do avião ainda na fila do túnel, expliquei: “Tenho a saúde muito debilitada. Morreu a maior parte do ventrículo esquerdo, que é a 'bomba' do coração, e para não 'mofar' em meu quarto, tento fazer viagens de reportagens. Eu deveria ter apagado na ambulância que me levou ao hospital, mas eu pessoalmente havia abençoado a UTI móvel quando esta foi adquirida, e neste veículo abençoado, Deus não permitiu que eu morresse. Assim, ainda estou embarcando com vocês para Salvador”. 

Eu havia posto meus pés na aeronave, ele ainda estava do lado de fora e a jovem estava à minha direita no avião, quando Richard disse: “Pastor, você pode abençoar a mim também?”.

Assim, na porta da aeronave em Afonso Pensa, São José dos Pinhais, eu estendi as mãos sobre os ombros de Richard e Aniella, dizendo: “O Senhor vos abençoe jovens. Eu espero que nosso episódio com o Salvador, aqui na porta do avião, nos permita um 'episódio' na porta do céu, permitindo-nos entrar juntos para a glória celestial. Naquele momento recordaremos esse episódio”.  

A aeronave decolou para Salvador e eu fiquei um tanto apreensivo, questionando: como eles irão se despedir de nós? Saindo pelo corredor, eles nos aguardavam abraçados, com o endereço do e-mail em mãos, para continuarmos nossa amizade. Os seus semblantes brilhavam como iluminados pela glória celestial, após o “episódio que tivemos com o Salvador”, no breve voo de Foz a Salvador.