Ecos da Liberdade

Quantos espelhos você tem? Eles são objetos indispensáveis em uma casa. Quase não se pode viver sem hoje em dia. Você já tentou passar um dia inteiro sem olhar seu look no espelho? Praticamente impossível. Na rua, é engraçado observar as pessoas que passam em frente às grandes portas de vidro das lojas da cidade. A maioria passa olhando seu próprio reflexo de cima até embaixo, para conferir se está tudo em ordem com seu visual.

Queremos mostrar boa aparência, estar bonitos. Isto é algo bom, que Deus colocou em nós. Gostamos do belo.

Um dos momentos mais divertidos para mim como pai foi ver meu filho descobrir o espelho. Ele balançava a cabeça, brincava com a mão e até beijava seu reflexo no espelho, achando incrível que o "bebê a sua frente" imitava seus movimentos. Hoje, com quase dois anos de idade, ele já sabe que o "bebê do espelho" é ele mesmo, mas a alegria de ver sua imagem refletida é a mesma de alguns meses atrás.

Achei isto interessante, pois sei que esta fase irá passar. Em poucos anos, o espelho, que ainda é motivo de riso e alegria, poderá se tornar um inimigo. Uma criança quando olha para o espelho vê apenas a imagem refletida e gosta daquilo que vê, sem se preocupar com aquilo que outras pessoas irão pensar de sua aparência, pois o seu olhar é sem preconceitos ou expectativas. Existe uma autoaceitação livre de comparações. Já adolescentes, jovens e adultos olham para o espelho tendo em mente os preconceitos e expectativas impostas sobre o estereótipo de um homem e de uma mulher, e criam assim uma cultura de comparação de aparências.

Quem é que define o que é ou não é bonito? Nós mesmos. Beleza é algo subjetivo. Cada pessoa tem um conceito diferente de beleza, e este é sempre influenciado pelo conceito geral de uma sociedade. É esta influência que na maioria das vezes se torna perigosa. Artistas de TV e modelos de revistas são impostos como figuras perfeitas de beleza, levando os "simples mortais", quase como manipulados, a terem sua autoestima jogada no chão, todas as vezes que o espelho não reflete o padrão de beleza ideal imposta pela mídia de propaganda. Estamos sempre insatisfeitos com a imagem que o espelho reflete.

Quando comparamos as pinturas da renascença com as propagandas de hoje, perceberemos que os padrões de beleza destas duas épocas são completamente diferentes e que tendências vêm e vão. O agravante hoje é que existe uma pressão maior sobre nós de nos enquadrarmos no ideal de beleza da sociedade.

Pelo fato da aparência física ser hipervalorizada em nossos dias, surgem doenças como bulimia, distúrbios alimentares, vício em gordura e açúcar e até mesmo depressão. Isso sem contar a grande quantidade de traições e divórcios que acontecem gerados pela insatisfação, porque um dos cônjuges não se enquadra mais no padrão de beleza esperado pelo outro.

Toda a luta para ser bonito releva uma das principais necessidades do ser humano: ser aceito no meio em que vive.

Levamos muito em conta a aparência física para julgar uma pessoa. Isso é tão importante que chegamos a odiar a nós mesmos e a figura que Deus nos deu. Tentamos mudar nossa aparência física somente para agradarmos a outros e sermos "aceitos" por eles.

Querer estar bonito é algo bom. Deus nos deu este senso de beleza e devemos cuidar sim de nossa aparência. É bom estar perto de pessoas que se cuidam e têm uma autoestima saudável. Mas devemos estar atentos para que esta busca não se torne algo doentio e afete nossa qualidade de vida ou nos traga riscos de vida.

Vale lembrar aquilo que Deus deixou para o profeta Isaías: "Anuncie que todos os seres humanos são como a erva do campo e toda a força deles é como uma flor do mato" (Isaías 40,6).

A beleza de uma pessoa hoje, inevitavelmente se transformará amanhã em rugas. Por isso, é bom investir mais forças na formação do caráter, que permanece sempre, do que em rostos e pernas "perfeitos" que com o tempo se vão.

Pr. Maiko Müller